Músicas de motel (e não só) para corações gelados
Do popular ao erudito. Da MPB aos DJs. Dos sussurros sugestivos aos erotismo escrachado. As músicas de motel (e não só) seguem icônicas. Ao final do texto, confira a playlist com as músicas citadas.
Anteontem, 16 de janeiro, a Sade Adu completou mais um ano de vida. Não lembro ao certo quando a descobri, mas me lembro de gostar da música “By Your Side” na novela “Um anjo caiu do céu” sem saber que era dela. O que eu sei é que a primeira música da Sade que eu ouvi sabendo que era dela foi “Smooth Operator”, depois eu ouvi “No ordinary love”, “Your love is king”, “Paradise”, “The sweetest taboo”... Algum tempo depois ouvi alguém falar que Sade figurava entre as famosas cantoras com fama de fazer músicas de motel. E eu gostei mais ainda. Engraçado que antes mesmo de saber que existiam músicas tidas como apropriadas para motel, eu já gostava de muitas delas.
Eu adoro Sade e também adoro a Maria Bethânia cantando “Cheiro de Amor” no álbum “Mel”, que antes de ser música foi jingle criado pelo publicitário Duda Mendonça justamente para fazer propaganda de um motel para o dia dos namorados. No mesmo álbum a Bethânia canta “Da cor brasileira”, que também é um clássico romântico. Eu também amo ela cantando “Sem açúcar” com Chico Buarque, amo especialmente o trecho “Longe dele eu tremo de amor/ Na presença dele me calo/ Eu de dia sou sua flor/ Eu de noite sou seu cavalo”. E eu amo mais ainda que a Maria Bethânia, mesmo estando no topo daquilo que pode ser entendido como a música brasileira, canta aquilo que a agrada sem se importar se é jingle de motel, se é música sertaneja… Talvez seja por isso que ela esteja no topo da música brasileira. Eu adoro a Bethânia cantando um álbum todo com canções de Roberto e Erasmo, o “As canções que você fez pra mim”.
Também adoro Serge Gainsbourg e Jane Birkin cantando, ou melhor surrando em “Je t’aime Moi non Plus”. Gosto muito do Chris Izaak cantando “Wicked Game”, do Thiago Pethit e do Johnny Hooker cantando “Wicked Game” e de todas as outras do Thiago Pethit, especialmente “Romeo”. Adoro o álbum “Motel” da Banda Uó, adoro o álbum “Veneno”, que também tem músicas no melhor estilo motel, como “Na varanda” e “Sauna”, afinal música de motel é mais um estado, um clima, um mise en scène do que propriamente uma música para se ouvir no motel. Adoro mais ainda saber que a Banda Uó voltou com uma nova turnê. Não posso me esquecer de mencionar o duo Noporn, que possui músicas impecáveis e sem o menor pudor como “Cavalo” e “Eu te amo”. Vale conferir o álbum “Adoro DJs” lançado no fim de 2023 em celebração aos 20 anos de carreira.
Embora eu seja particularmente pouco emocionado, sempre tive um fascínio por músicas densas, especialmente por aquelas intencionalmente nem um pouco inocentes. Poderia passar horas escrevendo e falando sobre as infinitas músicas de amor, de dor, de corno, de motel e de bordel que conheço, desde as mais clichês àquelas menos óbvias, que passam batido num programa de TV matinal. Afinal, elas sempre estiveram aí nas trilhas de novela, nos programas de auditório, na programação das rádios, nas pistas de dança e no nosso coração, mesmo quando ele é gelado.